domingo, março 07, 2021

A VIAGEM

 

” Orgulho, vaidade, despeito, rancor, tudo passa, se verdadeiramente o homem tem dentro de si um autêntico sonho de amor.”

Viajei pelo Mar do Norte, atraquei em Aberdeen, Haia e mais a norte em Esbjerg, na Dinamarca.

Conheci lobos do mar, homens de longas barbas ruivas, mulheres quentes de sovacos peludos, cães de olhos brilhantes e muito pelo, ouvi falar numa língua indecifrável para os meus ouvidos, mas aprendi a dizer Hej (Dinamarca) olá (em Portugal).
         Mergulhei nas águas profundas do oceano, namorei com sereias de corpo prateado, nadei ao lado de peixes-aranha e fanecas e pela primeira vez na vida fui amigo de um bacalhau que não estava no meu prato coberto de azeite e rodeado de cebola e alho.

Ultrapassei tempestades, ventos ciclónicos, fui soberbo, quis mudar o rumo do mundo, do meu mundo, esse mesmo mundo que ordena silêncio, quando bem disposto, paz. Foi aquele orgulho que matou a essência do meu viver, ela partiu, não sei se triste ou até descontraída pela libertação consumada. O meu cão vive triste, de cauda baixa e o pessegueiro do quintal não floriu. A vaidade que me fez passear pelo caminho das estrelas cegou-me com o seu brilho e de tão cego não discerni o quanto é importante a sua companhia, o calor do seu corpo no meu, o seu sorriso meigo e aquele abraço longo, do tamanho da eternidade. Tornei-me amargo, o ódio foi nascendo lentamente, como uma oliveira italiana, não soube cuidar do jardim que de mim cuidou, com as cores das suas flores, os aromas, mas também os seus espinhos.

Acordei. Acordei de uma vida vazia, repleta de pesadelos e monstros e vi em mim sonhos, sonhos de amor.

Aí… aí viajei pelo Mar do Norte, atraquei em Aberdeen, Haia e mais a norte em Esbjerg, na Dinamarca (o resto de história já é conhecida).

Sem comentários: