quarta-feira, outubro 27, 2010

O Jogo da Bola

No País o que mais se discute é o Orçamento de Estado para o próximo ano, até aí tudo bem. Como é um instrumento de Governabilidade muito importante, o de este ano tendo em conta a crise que continuamos a viver mais importante se torna, ok. Estamos entendidos.
Governo e PSD, durante cinco dias reuniram-se para um eventual acordo, não alcançado. O que me choca é a reacção dos protagonistas após as falhadas negociações, faz-me transportar ao tempo da minha Escola Primária. No recreio jogávamos à bola, dois "lideres", escolhiam os parceiros e assim formavam-se duas equipas. No inicio, tudo corria bem, à medida que o jogo da bola decorria, começava a batota, a falta que não existiu, o penalti que não foi marcado, a bola que entrou na baliza mas não foi golo, as caneladas e ás vezes tudo acabava à chapada. Estas reuniões entre Governo e PSD, parecem-me o jogo da bola do meu tempo de escola, mal acabou a "partida", lá vem os protagonistas a correr para defronte das cameras dizendo mal uns dos outros, que esperaram muito tempo sentados, que este não quer e aqule também não, enfim, as tais caneladas...
A minha esperança, é que, tal como acontecia no recreio da minha Escola Primária de Portomar, no fim das peripécias do jogo da bola, lá faziamos as pazes e amigos como dantes, quero dizer, blá, blá, blá... mas o orçamento passará.
Tenho dito.

sábado, outubro 23, 2010

Negra Alma

Hoje somos presenteados com um texto de Neves Braga. Conheço Neves Braga, desde o inicio dos anos 60 do século passado. Miúdo reservado, tímido, mas muito curioso e perspicaz. Os anos foram passando, e hoje, com quase cinquenta anos, o Neves Braga, com o seu 1,90 e 100 kg de peso, cabelos (poucos) desgrenhados e compridos, deixou o ensino e dedica-se à escrita, assim como ao aprofundamento das castas do vinho que mais gosta, nomeadamente a casta baga, que como se sabe está na origem do vinho da Bairrada.
Desiludido com a vida, revoltado com os estado das coisas, frustrado com os vários (des)amores da sua vida, fui encontrá-lo entre uma garrafa de vinho a meio e um monte de papeis semi-escritos, disse-me: “senta-te e bebe um copo, já te dou o teu texto”…


Teremos alma?!
Eu tenho! É negra!
E negrume é a sua alegria
É raiva à solta
É revolta contida
Mar agitado
Tornado destruidor
Alma, sem amor
Carvão é a sua cor
Inferno o seu destino
Tortuoso o seu caminho
Por entre veredas
Escuras, húmidas
Serpenteando a vida
Tropeçando nos Deuses
Mergulha na escuridão
Nessa noite contida
Onde perdidos
Nos encontramos
No alto da serra
Incendiada de Luz
Que queima a paz
Conduz a guerra
Dos desencontros
Desta vida morta
Que não ressuscita
Holofotes cegam-me
Vivo na penumbra
A Sombra é a minha vida.

Sim! Eu tenho alma!
É minha! É negra!
E negrume é a sua alegria