domingo, fevereiro 28, 2021

Percebi tudo… o mundo todo

 

                A casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo.”

         A janela do meu quarto dá para um jardim encantado onde habitam fadas e princesas e um coelho cor-de-rosa que tem como amigo um gato pardo. Quando abro a janela pela manhã entra aquela brisa fresca, perfumada por ventos de boa ventura, sinto a liberdade entrar pelas narinas e sinto-me jovem de novo. A entrada de minha casa tem dois degraus cobertos de jóias e pequeninas pedras de granito, são de uma tal graciosidade que é habitual ver o Rebelo, um lindo camaleão dos mais variados tons, a apanhar banhos de sol, cogitando sobre as políticas do governo para a educação e a problemática da pandemia. No fim, estende a sua extensa língua e num ápice devora dois gafanhotos que distraídos com a conversa nem repararam na sua presença.

        Mas é na sala, recostado no meu velho sofá já de pele roçada pelo tempo e molas gastas pelo peso dos anos, a antiquada televisão a preto e branco já sem som, que me dá alento e descanso para enfrentar o dia de hoje, o dia seguinte e ainda mais o outro a seguir e perceber que este mundo, ás vezes cruel, outras vezes burlesco é o mundo em que vivo, é a terra que piso, o mar em que navego.

         À luz da lua cheia e odor de maresia, canto com a minha voz desafinada e estridente, cantigas de amigo, escárnio e maldizer. Outro dia, fui à janela do quarto e o coelho cor-de-rosa mais o seu amigo gato pardo, três princesas e uma fada riam-se de mim e da vida que levava.

         Sentei-me no sofá, e percebi tudo… o mundo todo!