segunda-feira, setembro 17, 2018

De mim, (s)em dó


        Seria um fim de semana diferente, em tudo diferente. Saí de casa com um misto de preocupação e ansiedade, o pé no acelerador tocava de ligeiro, o carro embalava calmo pelo IP3, mas lá foi indo. Já na estrada das Levadas, cada curva presenteava-me com uma história da minha já longa vida. A imagem da minha saudosa Mãe presente, o carro lá avançava, devagar, sem percalços, levando-me ao encontro do passado, construindo a partir deste instante um novo futuro.
        Finalmente, chegámos. Pousar as malas e dar um abraço a meu Pai. Eu ,de olhos cheios de um oceano verde de esperança, senti a força dos seus débeis músculos, antes fortaleza da casa.
        Desde os meus 8 anos que tal não acontecia, ir a casa de meus pais e não ter um café para servir, uma taça tinto ou branco consoante a vontade do cliente, um bacalhau à casa, ouvir uma boa discussão sobre politica, retirar da casa de banho das senhoras umas cuecas imundas e uma dentadura, dois ou mais homens ao soco, almoçar ou jantar aos “soluços” conforme a chegada dos clientes, não ir ao futebol porque não se podia deixar o balcão, aprender sobre a vida dura e crua, tomar consciência politica, transformar-me também no que ainda hoje sou.
        O ritual continuou, continuou até ao dia 06 de Agosto deste ano. Apoderou-se-me um misto de raiva e alegria e uma tristeza imensa porque uma coisa é uma coisa e as coisas são como elas são.
Texto este que terá continuação…

Sem comentários: