quarta-feira, julho 05, 2006

Era uma vez... uma artista de Circo



Há uns longos anos trabalhei no circo com um número de abelhas amestradas. Era um enxame completo, com abelha Rainha e tudo. Sob os meus comandos faziam várias acrobacias, como piruetas em pleno voo, loop’s, voos picados, saltos mortais, tudo numa enorme e grandiosa sincronização de conjunto. Sempre muito profissionais e dedicadas ao trabalho, estas abelhas de circo (as minhas bonecas, como carinhosamente lhe chamava), eram bastante proactivas, pois várias vezes a abelha mestre me sugeriu novas acrobacias assim como protestava quando não gostava de qualquer acção sugerida, portanto, eram também reactivas.

Estarão os leitores a matutar como seria possível trabalhar com tais animais sem nunca levar nenhuma ferroada. E, estão a pensar muito bem. A resposta é simples: como sabemos as abelhas além de excelentes artistas de circo, são óptimas produtoras de mel, pólen (usado em produtos dietéticos e como suplemento alimentar dos atletas), própolis (utilizado na medicina natural como antibiótico e cicatrizante), cera (para as obreiras produzirem 1 kg de cera têm que consumir 7 a 10 kg de mel!), geleia real (usada em medicina natural, contra as depressões e o enfraquecimento geral), só me limitava a comprar produção das “minhas bonecas” ao dobro do preço de mercado, como diz um amigo meu: sistema capitalista puro e duro bastava para ter as abelhinhas na minha mão e desse modo executarem as acrobacias pretendidas.

Uma das abelhas distinguia-se de todas as outras, não só pelo facto de ser filha da abelha Rainha, portanto, Princesa, mas sobretudo pelas habilidades que fazia no meu número de circo. Ela, pairava no ar batendo uma só asa, enviava o ferrão a uma altura considerável e recebi-o como se nada fosse, dava saltos mortais de olhos vendados e fazia voos picados de arrepiar o mais corajoso. Pois um dia, e sem que eu soubesse, foi assistir ao meu número um conhecido produtor cinematográfico de Hollywood, John Jerry de seu nome, mais conhecido por JJ (jay jay à Inglesa), que logo ficou encantado com a minha Princesa. Daí, ao contrato foi um pequeno passo. Arrecadei uma boa maquia que deu para abandonar o circo e viver de “papo” para o ar enquanto o dinheiro durou.

Mas… uns meses mais tarde, e para grande espanto meu, ligo a televisão e o que é que vejo? O que é?! Isso mesmo! A minha abelha no ecrã mágico, era a magnifica vedeta, só não gostei que lhe tenham mudado o nome, agora a Princesa chamava-se: ABELHA MAIA.
Qual Zé Maria, ou Marco, ou Zé Castello Branco, ou Lili Caneças, ou… a minha Princesa Abelha é um astro, ou ainda melhor, uma estrela que brilha. No entanto quando muito depressa se sobe, mesmo sendo acrobata de circo, estando habituada a altos voos e a queda se dá, meus caros amigos o trambolhão costuma ser danoso.

Um dia tocou o telefone lá de casa, um objecto em madeira, uma coisa lindíssima que herdei do meu avô, que por acaso não tinha telefone, mas que trouxe este de França após a sua participação na I Guerra Mundial, bom, tocou o dito telefone e era o já mencionado JJ. Meio atrapalhado, a voz de quando em quando cortada por um soluço, lá me foi dizendo que a minha Princesa, agora Maia (leia-se: abelha Maia), estava grávida. Surpreendido, lá fui perguntando: e então, quem é o pai? Como aconteceu? Ao que JJ, retorquiu: - Hey man! I’m not sure, foi um zangão que trabalha num filme pornográfico que eu produzo. É um galã, só musculo, grandes peitorais, muito difícil qualquer abelha resistir ao charme deste matulão. E o pior é que a Maia, já não pode participar mais na série, vai ser substituída por uma outra abelha muito jeitosa, que trabalha numa outra série sobre apicultura.
- Então e a Princesa (a Maia), que vai acontecer? Perguntei.
- Well, vai para um lar de mães solteiras e depois terá que cuidar da vida sozinha. Isto aqui é América, não é como aí na Europa, my friend!
Fiquei deveras preocupado, mas a verdade é que já tinha gasto todo o dinheiro que ganhei com a transferência da Princesa, logo não tinha possibilidade de cuidar dela.

Durante vários (muitos) anos, nada soube da abelha Maia, até que há pouco mais de 2 meses um colaborador próximo do JJ disse-me que a pobre Maia morreu de solidão, mas, a sua filha, também de apelido Maia faz sucesso, diz-se que é:… Astróloga !

8 comentários:

Tozé Franco disse...

Parabéns.
Excelente texto e excelente sentido de humor.
Bem vindo. Já sentíamos a falta dos seus escritos
Um abraço.

Moura disse...

Reitero as palavras do colega Tozé Franco!
Eu faço parte daqueles que entram diariamente no Populus Romanus...
E mais uma vez somos brindados com um belo texto cheio de ficção e quiçá realidade!
Um abraço do Moura.

Tozé Franco disse...

Queria agradecer-lhe o facto de ter colocado o link do meu blogue no seu.
Em segundo lugar obrigado pelas palavras a propósito do que aconteceu em Santa Cruz, que é uma Igreja que a mim me diz muito.
O mal não é só o Estado não fazer, mas esforçar-se imenso para que os outros também não façam.
Um abraço.

Moura disse...

Um Estado que conta e parece que chora os cêntimos destinados à magnifica obra de restauro do Mosteiro de Tibães, que eu fiz questão de mostrar no meu blog, e não tem qualquer problema em abrir os cordões à bolsa para bem ali perto se fazer um Estádio, inteiramente novo com um outro ainda a funcionar, onde milhões de euros foram enterrados! Digo enterrados porque não considero investidos em prol do FUTURO.
Abraço do Moura ao educotecnohistóricogastronómico César.

Anónimo disse...

A:)

a d´almeida nunes disse...

Com o dinheiro do Zé é que é fartar vilanagem...
Cada vez estou mais anti-Estado Administrador desregrado.

O problema é que ninguém é capaz de por mãos neste caos ordenado, quero dizer, tendencialmente ordenado.
(continua...)

ELOS LEIRIA disse...

Venha conhecer o ELOS CLUBE de LEIRIA.

luís antero disse...

eheheheh, este no sense aparente tem água no bico, eu é q ainda não percebi. para já fico convencido que andas metido com a malta do cão fedorento, eheheh. ou então tens o terry gillian a viver aí em casa, eheh. pronto, é sempre bom mandar uns bitaites aqui no blogue do + velho. olha, um abraço do + novo. continua, que é pá gente curtir e andar bem disposto. cuidado com as pipocas e já agora com as ferroadelas, ahahah.