Neves Braga, amigo de longa data, publicou pela primeira vez no PopulusRomanus em Outubro de 2010 - "Negra Alma". Licenciado em Filosofia e professor por profissão, afastou-se do ensino por opção própria, vivendo de parca receita proporcionada pelo arrendamento de uma quinta que lhe calhou em herança.
Vive num velho apartamento na alta de Coimbra, bebe mais do que come e passa os dias entre um copo de vinho e um amontoado de papeis que escreve, risca, rasga e lê.
Esta semana foi internado com uma cirrose hepática, de visita ao hospital, disse-me: "- no meu casaco está um papel para ti. Coloca no Populus, mas está descansado que não é o ultimo".
Assim fiz, Neves Braga, continua internado, conta com a sapiência dos médicos e os efeitos dos medicamentos, porque ele não tem fé, nem vontade de viver.
A ver vamos!
O álcool já não me consola
É a escrita que me embriaga
Nesta vida sem sentido
Deambulando por vielas escuras
Um cheiro nauseabundo a mijo
O horrível miar dos gatos
Tropeço em gente sem futuro
Perdidos para o Éden
Confusos com a realidade
Acelero o passo, trôpego
Embato contra o destino
Encontro o passado
"Ecce Homo", de Nietszche
Metafisico último da vida
Lembro a Amélia de Gouveia
Dona de dois cavalos e fina retórica
Não quero lembrar mais o passado!
Arrojo alcançar o futuro
Não tenho forças, só pensamentos
As entranhas do corpo desfazem-se
O meu espírito vagueia
Dizem ser Natal
Sinto-me morrer. Deixem-me só!
Quero ver o Menino nascer.
NevesBraga