domingo, dezembro 18, 2011

Dizem ser Natal

Neves Braga, amigo de longa data, publicou pela primeira vez no PopulusRomanus em Outubro de 2010 - "Negra Alma". Licenciado em Filosofia e professor por profissão, afastou-se do ensino por opção própria, vivendo de parca receita proporcionada pelo arrendamento de uma quinta que lhe calhou em herança.

Vive num velho apartamento na alta de Coimbra, bebe mais do que come e passa os dias entre um copo de vinho e um amontoado de papeis que escreve, risca, rasga e lê.

Esta semana foi internado com uma cirrose hepática, de visita ao hospital, disse-me: "- no meu casaco está um papel para ti. Coloca no Populus, mas está descansado que não é o ultimo".

Assim fiz, Neves Braga, continua internado, conta com a sapiência dos médicos e os efeitos dos medicamentos, porque ele não tem fé, nem vontade de viver.

A ver vamos!


O álcool já não me consola

É a escrita que me embriaga

Nesta vida sem sentido

Deambulando por vielas escuras

Um cheiro nauseabundo a mijo

O horrível miar dos gatos

Tropeço em gente sem futuro

Perdidos para o Éden

Confusos com a realidade

Acelero o passo, trôpego

Embato contra o destino

Encontro o passado

"Ecce Homo", de Nietszche

Metafisico último da vida

Lembro a Amélia de Gouveia

Dona de dois cavalos e fina retórica

Não quero lembrar mais o passado!

Arrojo alcançar o futuro

Não tenho forças, só pensamentos

As entranhas do corpo desfazem-se

O meu espírito vagueia

Dizem ser Natal

Sinto-me morrer. Deixem-me só!

Quero ver o Menino nascer.

NevesBraga

quarta-feira, agosto 31, 2011

Amo o mês de Agosto.

Amo o mês de Agosto.

Desde sempre que sinto um grande fascínio por este mês do verão, tradicionalmente vocacionado para os Portugueses tirarem férias, embora este ano tenha sido um mês atípico, com chuva e algum frio, mesmo assim… Amo o mês de Agosto.

Adoro a praia apinhada de gente, lancheiras com tinto, cerveja e o franguinho de churrasco, mais o belo do croquete, os bolos de bacalhau e o arroz de tomate. A areia a escaldar os pés, faz a delícia de qualquer calcanhar bem tratado. E os cãezinhos à beira-mar?! Que bonito!... Como fico comovido com a preocupação dos donos quando os canídeos têm necessidades fisiológicas, carinhosamente fazem uma cova, logo ali, na areia e voilá, retrete improvisada num instantinho.

Maravilhoso é estar exposto ao sol, horas sem fim, ora de um lado ora do outro, assim como o frango de churrasco quando está na brasa. Perde-se a brancura da pele, mas ganha-se um novo colorido, tipo chocolate de leite, em alguns casos mais leite que chocolate e noutros mais chocolate do que leite. O colorido dos fatos de banho (calções, biquíni, monoquíni, etc.), com esqueletos dentro, a jogar volei, ou pontapé para a frente, sem esquecer as raquetes, sem dúvida bonito. Os maridos ciumentos, mais os rapazes a mostrar o seu desenvolvido “caparro” às moçoilas casadoiras, as bolas de Berlin, a bolacha Americana e os gelados, ai… que bom comer um Epá debaixo de calor tórrido, de tirar a respiração. Uma suecada, ou o jogo do burro, ou os gritos do puto que quer ir ao mar mas a mãezinha não deixa: - “Toninho, não vez que estás a fazer a digestão!”, ao que a avó, diz: -“Deixa lá ir o menino, já passou uma hora e meia.”

Podia perfeitamente ir para a praia no estrangeiro, tenho posses para isso e muito mais. Mas para quê?! Não é necessário e assim sempre se poupa. Pelo menos as praias que frequento, são muito à frente, fala-se muito estrangeiro – principalmente francês – e como os estrangeiros também já falam português, ainda há dias assisti a uma esmerada mãe a dizer ao seu filho: “Michel, viens ici, viens ici. Se te afogas eu mato-te!”, bonito né?! Eu acho.

Para chegar à praia Km’s e Km’s de tráfego intenso, ou mesmo de fila, parece um tormento, mas não é. Atentamos: como o meu Mini de 1976, não tem ar condicionado, depois de 60 Km’s percorridos perdi no mínimo, 2 Kg de peso de tecido adiposo e pelo menos 2 litros de água, que terei que repor em forma de cerveja, fresquinha e loira. Depois, quando estamos em fila, sempre ouvimos bonita música, emanada alta e com bom som de carros com os vidros todos abertos conduzidos pelos nossos queridos emigrantes (não quero generalizar, só se aplica aos que têm muito bom gosto, já se vê). Em Agosto, sempre tenho oportunidade de ver passar pelo meu Mini, autênticos bólides, que me deixam bestificado, tal o deslumbre, ainda mais se tiver em consideração que o Mini só sai da garagem em Agosto, ou aquando de alguma ida às urgências hospitalares, pois durante o ano circulo de bicicleta e ando a pé. E a velocidade a que passam?! Diabólico, estonteante.

Casamentos?! Sim! Casamentos… são em Agosto! Eu sei, há quem se case noutros meses do ano, eu por exemplo, se algum dia me casar será em Fevereiro ( a 28, para ser mais exacto). Mas não há nada que chegue a um casamento no mês de Agosto. Será o calor?! Não sei, mas sente-se que o amor anda no ar. As indumentárias de cerimónia saem do guarda-fatos (expressão bonita, esta), as mulheres ficam mais bonitas e os homens mais esbeltos e atractivos. Antes da ida à Igreja, vai-se ao café lá do sítio e bebe-se uns maravilhosos martinis com cerveja ou moscatel com gasosa e assim fica-se pronto para devorar os acepipes da boda, que tem como auge o leitão à Bairrada e o pôr-do-sol. O pôr-do-sol, deveria chamar-se: “pela noite dentro” ou “vem ver a Lua”, já que o bolo de noiva (e do noivo, já agora) só se parte lá para a meia-noite. O jovem do teclado, dá música para todos os gostos e os corpos abanam freneticamente ao som daquele rock and roll, descansam em gestos suaves e cálidos de encontro a outro corpo, num slow de encantar; ou mais frequentemente, salta-se e em carruagem por entre as cadeiras e as mesas, puxa-se para a dança os convivas mais tímidos que a um canto observam por entre um copo e um camarão cozido.

È em Agosto, que se dá a chamada reentré política. Após uma merecidas férias, os senhores políticos, fazem-se à vida. Lá se fazem umas festas comícios, com as críticas ou os anúncios do costume, com os do costume, que nós, os comuns mortais gostamos e aplaudimos no fim. È incrível como estes senhores e senhoras pensam em tudo. Têm tudinho pensado para cuidar da nossa vidinha, passam dias e dias, fins-de-semana e feriados a cogitar na melhor forma de melhorar a nossa vida, a vida da comunidade, o nosso Portugal. Não temos que nos preocupar, apenas pagar os impostos, tomar uns antidepressivos, viver pior que ontem e esperar pelo mês de Agosto do próximo ano, que a praia espera-nos.

Como amo o mês de Agosto…

terça-feira, julho 26, 2011

Sinto-te...







Sinto a Tua presença

Trazes um ramo de saudade

Adormecida neste tempo

Ora rápido, ora lento

Em que partiste sem te despedir

Na mais crua verdade


Sinto a Tua presença

Sempre que vieres

Lança-nos pétalas

Perfumadas com o teu olhar

E o brilho do teu sorriso

E aquela brisa do mar


Sinto a Tua presença

Sinto, a simplicidade dos simples

A amizade de outrora

O nascer de nova aurora

O canto das fontes

Um calor frio


Caem pétalas

Pétalas de Margaridas

Sinto-te... aqui e agora.

domingo, maio 08, 2011

Politica, uma História e... Ansiolíticos.

Neste tempo difícil que atravessamos, seria normal estarmos unidos, prontos para juntos combatermos os desafios que nos afrontam, em especial quem tem responsabilidades públicas. Arrastados para uma crise, não só económica, mas também social e essencialmente uma crise de valores, que todos, sem excepção, temos dificuldade em combater, ou por mero comodismo, ou embalados por uma frenética corrida pelo consumismo, que sem darmos conta nos consome as ideias e os valores - sejam eles conservadores ou progressistas (seja isso lá o que for). Não gosto de falar de quem está na política, como "classe política", pois, de uma maneira geral são homens e mulheres como nós, portugueses da mesma maneira, que se entregam à "coisa pública". No entanto tenho que reconhecer, que certa "classe política", se distingue, até pela forma como se veste, preferindo tons entre o cinzento e o azul, assim de uma forma elevada e elegante, não se misturando com a populaça que bebe cerveja acompanhado por tremoços ou amendoins, preferindo champanhe francês e "maigré de canard". São estes tipos, elegantes, pensadores, de credo fácil, de alto estatuto social, que de querela em querela, se afastam da resolução das crises que nos apoquentam, dizendo: - não governamos com o líder do partido X. Ao que o líder do partido X, retorque: - quem ganhar as eleições deve governar sozinho, não nos aliamos ao partido Y.
O que é isto, pá?! Estes homens andam todos nervosos, ou a brincar connosco?!

Quem me conhece, sabe que além de extremamente tímido sou muito ansioso. Tenho a felicidade de encontrar entre os meus amigos, um poeta natural de Cabo Verde, de pseudónimo literário: António de Névada, que fez o favor de me convidar a estar presente no Teatro Gil Vicente em Coimbra, para apresentação da sua obra: "Esteira Cheia ou Abismo das Coisas". Assim, de forma a combater a minha ansiedade, lá tomei 2 comprimidos de 0,25mg de alprazolam e toca a abalar para a apresentação da obra. Sentei-me numa das cadeiras da fila da frente, à minha direita a Nandinha e à minha esquerda uma senhora que até aí nunca vira. A apresentação da obra teve a cargo um distinto Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (se a memória não me atraiçoa: Orlando Silvestre), que se alongou - e bem - na descrição da obra e da vida do poeta. Atraiçoado pelo "alprazolam", que tinha tomado em dose dupla, fechei os olhos durante a apresentação de tal forma a "droga" me tinha descontraído e relaxado. Foi aí, que a senhora sentada à minha esquerda, que nunca antes tinha visto, me abordou: - "O Professor é uma seca, não acha?"
Timidamente acenei com a cabeça, concordando com o que dissera e mais uma vez dormitei (que vergonha!).
No fim, já no beberete, perguntei ao meu amigo poeta: - Diz-me, aquela senhora ali quem é? Ao que retorquiu: é esposa do Prof. Orlando. Foi quase o fim do mundo, o efeito do ansiolítico passou de imediato, fiquei ainda mais branco, com calafrios, taquicardia e uma sensação enorme de estupidez.

Não seria assim que esta classe politica, se deveria sentir?! Entendam-se gente do meu País!
Por vós, por Nós, por todos! Se não se aguentam, um alprazolanzinho pela garganta abaixo para fazer baixar toda essa ansiedade não faria mal.

Este texto não foi escrito segundo o acordo ortográfico, perdoem.

segunda-feira, março 21, 2011

Silêncio das Palavras

Não te encontro
No silêncio das tuas palavras
Desconheço o brilho do Sol
Ou o voar livre dos pássaros
Não te julgo indulgente
Nem o passar de tanta gente
O teu silêncio, povoa-me de incertezas
Atiro palavras ao vento
O vento nada me diz
Nem um leve sussurro
Apenas brisa à beira-mar
Partiste para além de ti
Fiquei orfão de palavras
Não sinto o belo som da poesia
Insensível à multidão que rodeia
O tempo em som de maresia
O discurso que se pavoneia
Em parlamentos e salões
E eu, em silêncio
Sem palavras ou palavrões

Neves Braga

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

A CANTIGA AINDA É UMA ARMA !!!

O repentino e natural êxito que a canção "Parva que Sou" dos Deolinda obteve, leva-me a pensar de forma simplista, bem sei, que a Cantiga ainda é uma Arma. Esta canção está a ser adoptada como canção protesto, por esta crise que passa e teima em ficar, de protesto por esta classe politica medíocre que supostamente nos governa ou quer governar e por uma oposição ávida de poder e não menos medíocre. Leva-me a um outro tempo, não muito longínquo, mas que muito bem recordo (relembro os meus cabelos brancos), das cantigas que abertamente, livremente e definitivamente entoaram após a revolução de 25 de Abril de 1974. Cantigas criadas após Abril de 74, mas tantas e tantas nascidas na noite escura do Salazarismo, ouvidas à escondida da policia politica e dos bufos de então e que foram a outra face da revolução, pois, a verdade, eu assim acredito - A Cantiga é uma Arma!
Desculpem, caros leitores, pode ser demodé, mas cantigas na voz de: José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Pedro Barroso, Sérgio Godinho, Padre Fanhais, José Mário Branco, Luís Cilia, Manuel Freire, Ermelinda Duarte, Fausto Bordalo Pinheiro, Vitorino, Janita Salomé e outros que a minha memória já não alcança, confesso, ainda me fazem vibrar, tantas vezes comover até ás lágrimas, sabem que mais?! A CANTIGA AINDA É UMA ARMA !!!

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Espelho Meu

Hoje, olhei-me de novo ao espelho.
De quem seria aquela imagem reflectida?!
Não reconheço em mim aquelas rugas
O cabelo branco de meus avós
O olhar baço de um marinheiro com saudade
Peles flácidas, lembrando fraquezas
Narinas e orelhas pubescentes
Semblante triste, marcado pela dor
Deste tempo que passa, depressa
E eu… sem norte ou esperança
Ziguezagueando como um bêbado
De saudade da pele luzidia
Do cabelo florescente em mim
Olhar vivaço de criança curiosa
Alegre, dando saltos para a vida
As paixões! Tantas vezes caladas no silêncio do luar
O Amor… Sim Amor! Como te amo tanto!
Quero-te, como naquele tempo
Mais, talvez. Agora que te conheço como as marés
No mais profundo do teu olhar
Revejo a minha alma, o passado em película
O calor das tuas mãos, os teus lábios quentes
Agitam o sangue que ferve em mim
O coração não balança, bate por ti
Bate forte, em cada batida recorda-te
Cada recordação, torna-me eternamente jovem

Neves Braga