Dei comigo a cogitar, eu, meus botões e mais um fecho eclair dumas velhas calças de ganga, com o tratamento que se tem dado à nossa Bandeira Nacional.
Quem me conhece, sabe que não sou dado a “futebois” – conheço apenas o mínimo que a cultura geral obriga e o suficiente para mandar “umas bocas” à 2ª feira, no local de trabalho, onde o tema do dia são estas coisas da bola – mas, com esta dos Campeonatos Europeu e Mundial da modalidade, pegou moda a bandeirinha nacional à janela, no quintal junto ao limoeiro, na janela do automóvel, no guiador da bicicleta, no boné do “totó”, a servir de xaile e até vi, uma senhora de costas direitas, peito saliente, lábios exuberantemente pintados de encarnado, que levava pela trela um peludo cachorro com o dorso coberto por … uma Bandeirinha Nacional.
É a Bandeira Nacional, “símbolo da soberania da República, de independência, unidade e integridade de Portugal…”, quem o diz é o Artigo 11º da Constituição da República Portuguesa. Interrogo-me (mais os botões e o fecho) se este patriotismo exacerbado, em torno do futebol e da Bandeira Nacional, não é demais? C’os diabos, se ainda a proeminente exibição fosse no 5 de Outubro, ou mesmo no 1º de Dezembro (embora a Bandeira seja republicana), aí compreendia, aplaudia, e também haveria de comprar uma Bandeira para a colocar em sitio bem visível.
Mas o motivo de tanta Bandeira é o futebol? Por muito respeito que tenha pela modalidade e pela selecção Nacional da mesma (o que desejo é que tenha muitas vitórias), inclino-me a pensar que não seria necessário envilecer os símbolos nacionais. E, note-se, nem sequer sou um grande nacionalista (apenas q.b.), mas a forma e a quantidade como os mesmos são exibidos ou a sua imagem tratada não me deixa indiferente.
Mas somos assim mesmo, não é verdade?! Ou andamos tristes como a noite mais escura ou em sucessivas bebedeiras de alegria, que nem nos apercebemos o quanto maltratamos os nossos símbolos nacionais.
Quer queiramos, quer não, a vida também é feita de símbolos com que nos identificamos (ou não), nos revemos, nos identificamos, nos entendemos, quem nunca se emocionou a ouvir o Hino Nacional olhando para a Bandeira Nacional?!
Porventura estarei enganado, a Bandeira Nacional deve estar por toda a parte e em toda a parte, seja no quintal, no automóvel, na bicicleta, no dorso do cãozinho, na cabeça do “totó”, ou como hoje me afirmaram ter visto, na mesa do restaurante a servir de toalha.
Tamanha exposição da Bandeira Nacional, quiçá, seja uma grande afirmação de patriotismo do Povo Português. Ainda assim, eu, um humilde rapaz (sim, ainda sou um rapaz!) filho desta terra na pontinha da Europa, com os impostos em dia e tudo, não partilho deste espectáculo exibicionista da Bandeira Nacional. Em tudo na vida deve imperar o bom senso, e no futebol… também!
Perdoem-me se estou enganado!