sexta-feira, maio 26, 2006

Perdoem-me se estou enganado

Dei comigo a cogitar, eu, meus botões e mais um fecho eclair dumas velhas calças de ganga, com o tratamento que se tem dado à nossa Bandeira Nacional.

Quem me conhece, sabe que não sou dado a “futebois” – conheço apenas o mínimo que a cultura geral obriga e o suficiente para mandar “umas bocas” à 2ª feira, no local de trabalho, onde o tema do dia são estas coisas da bola – mas, com esta dos Campeonatos Europeu e Mundial da modalidade, pegou moda a bandeirinha nacional à janela, no quintal junto ao limoeiro, na janela do automóvel, no guiador da bicicleta, no boné do “totó”, a servir de xaile e até vi, uma senhora de costas direitas, peito saliente, lábios exuberantemente pintados de encarnado, que levava pela trela um peludo cachorro com o dorso coberto por … uma Bandeirinha Nacional.

É a Bandeira Nacional, “símbolo da soberania da República, de independência, unidade e integridade de Portugal…”, quem o diz é o Artigo 11º da Constituição da República Portuguesa. Interrogo-me (mais os botões e o fecho) se este patriotismo exacerbado, em torno do futebol e da Bandeira Nacional, não é demais? C’os diabos, se ainda a proeminente exibição fosse no 5 de Outubro, ou mesmo no 1º de Dezembro (embora a Bandeira seja republicana), aí compreendia, aplaudia, e também haveria de comprar uma Bandeira para a colocar em sitio bem visível.

Mas o motivo de tanta Bandeira é o futebol? Por muito respeito que tenha pela modalidade e pela selecção Nacional da mesma (o que desejo é que tenha muitas vitórias), inclino-me a pensar que não seria necessário envilecer os símbolos nacionais. E, note-se, nem sequer sou um grande nacionalista (apenas q.b.), mas a forma e a quantidade como os mesmos são exibidos ou a sua imagem tratada não me deixa indiferente.

Mas somos assim mesmo, não é verdade?! Ou andamos tristes como a noite mais escura ou em sucessivas bebedeiras de alegria, que nem nos apercebemos o quanto maltratamos os nossos símbolos nacionais.

Quer queiramos, quer não, a vida também é feita de símbolos com que nos identificamos (ou não), nos revemos, nos identificamos, nos entendemos, quem nunca se emocionou a ouvir o Hino Nacional olhando para a Bandeira Nacional?!

Porventura estarei enganado, a Bandeira Nacional deve estar por toda a parte e em toda a parte, seja no quintal, no automóvel, na bicicleta, no dorso do cãozinho, na cabeça do “totó”, ou como hoje me afirmaram ter visto, na mesa do restaurante a servir de toalha.

Tamanha exposição da Bandeira Nacional, quiçá, seja uma grande afirmação de patriotismo do Povo Português. Ainda assim, eu, um humilde rapaz (sim, ainda sou um rapaz!) filho desta terra na pontinha da Europa, com os impostos em dia e tudo, não partilho deste espectáculo exibicionista da Bandeira Nacional. Em tudo na vida deve imperar o bom senso, e no futebol… também!

Perdoem-me se estou enganado!

sábado, maio 06, 2006

Terna Saudade

A minha avó materna chamava-se Amélia. Era eu muito pequeno, com apenas 5 anos de idade quando faleceu. Mesmo assim, no sotão da minha memória, ainda encontro a sua imagem, presa dos movimentos, já que nova ficou paralitica; lembro a sua humilde casa em Santa Clara - Coimbra e de a visitar com frequência com minha mãe, mas as memórias de esse tempo longínquo não conseguem outro alcance.

A minha avó paterna, a Maria da Graça, uma mulher elegante e bem disposta, mas marcada pela dura vida que o regime salazarista lhe proporcionou. Nascida numa linda aldeia da então Beira Alta, no concelho de Oliveira do Hospital, mesmo na pontinha desse concelho, quase a beijar o concelho vizinho de Seia, de nome: Alvôco das Várzeas. Sem instrução, como quase toda a gente, o que naquele tempo era uma moda e mais do que isso, um passaporte para ir trabalhar de sol a sol para a casa rica lá do sitio a troco de um caldo de água e farinha. Lembro bem as rugas na linda cara de minha avó, contavam a vida sofrida de uma época que foi rude e cruel para aqueles, que como ela, tiveram que sofrer no corpo e na alma as agruras de uma vida de inexistência, onde apenas os "senhores" (ricos ou das casas ricas) tinham direito a existir na plenitude da dignidade humana.

Dando um salto nesta história (ou estória - não sei bem), com 14 anos fui viver para Alvõco, e durante um certo período ia dormir a casa dos meus avós paternos.
Uma casa muito pequena, humilde, mas também muito reconfortante. A um canto da minúscula cozinha, lá estava a lareira, sempre acesa, onde minha avó cozinhava, e a comida ali feita tinha um sabor que em mais lado algum encontrara. Era naquela lareira, que minha avó Graça preparava o "café" de cevada, que eu e meu avô partilhávamos por volta das 7 horas da manhã, naquelas manhãs frias de Inverno e que me sabia a um manjar de reis. Nessa altura acordava bem disposto, pois sabia que tinha o "café" pronto e a boa disposição da minha Avó.

Avó Maria da Graça, está dentro do meu coração, partiu em tempo para uma viagem (e eu estava noutra viagem), para muito longe, muito longe - mas como diz a cantiga: "onde nos vamos encontrar".
Nunca lhe disse Avó, mas o seu "café" é (ainda lhe sinto o cheiro e o sabor) delicioso. Tenho saudades do seu olhar, do seu sorriso, de quando me chamava herege... Avó: GOSTO MUITO DE SI.

Com este humilde texto, apenas pretendi HOMENAGEAR TODAS AS MÃES (e minhas Avós).
Muito especialmente a MINHA MÃE (Adoro-te MÃE) e a MÃE do MEU FILHO (Amo-te MULHER por quem um dia me apaixonei).