quinta-feira, julho 27, 2006

A Simplicidade dos Simples

Olho pela janela
O tempo triste
Chora a tua partida

O Sol
Envergonhado pela fúria dos Deuses
Esconde-se na atmosfera
Carregada de lágrimas

O Rio
Serpenteia a desgraça
De não mais te falar

Mas,
Ao contemplar aquela cadeira
Lembro o teu Olhar
O Sorriso fraterno
A Simplicidade dos Simples


Até sempre... viverás enquanto vivermos.

sábado, julho 22, 2006

Estou Triste !

Este post é atípico em comparação aos que até agora tenho escrito. Não haverá alegria na escrita, porque não me sinto alegre; menos irónico que o usual, mas um bocadinho irónico, já que a ironia é parte importante da minha escrita, um legado do Eça. Será um post sentido, um pensar alto, um grito na blogosfera, uma manifestação de tristeza, pois a tristeza também faz parte de nós. Quando escrevo neste espaço, é para todos e para ninguém, mas comovidamente agradeço aos que regularmente me “visitam” e comigo partilham este singelo espaço. Principalmente a esses (eles sabem quem são), reitero os agradecimentos e peço desculpa pelo meu estado de alma.


Estou triste! Estou muito triste, zangado por estar triste, mas estou triste! O meu coração bate mais pausadamente, a cada batida sinto uma pequena dor, pequena mas profunda que bate no meu ego, vizinho da alma.
A fonte secou, o menino já não joga à bola, a boneca da menina não sorri, o sol brilha a falso e o rio serpenteia a desgraça do momento que passa.
A semana que hoje termina foi difícil, especialmente a sexta-feira (e não era dia 13); poderei divagar sobre a guerra Israel/Palestina/Líbano, em nome de quê ou de quem se matam crianças?! Crianças é sinónimo de inocência e amor, matam-se inocentes?! Em nome de um Deus maior ou menor, de uma posição geográfica, de conflitos antigos; mas resolve-se assim?! À pistolada?! Os Homens ainda não aprenderam a comunicar entre Homens?! A partilhar e a resolver os problemas que os afligem sem o emprego da força pura e dura?!

Estou triste! Reguei as plantas do jardim, mais as árvores do quintal, falei com elas, dei-lhe algum carinho, mas as plantas do meu jardim e as árvores do meu quintal definharam. Tenho pena. Tão boas ouvintes elas eram, ouviam-me com paciência, nunca teriam uma palavra de desagrado e um dia recordo-me, falava eu no semblante das pessoas do meu País, também elas tristes, quase sem esperança, neste tempo medíocre em que vivemos, quando reparei que no cimo do pessegueiro um pardalito ouvia atentamente o que eu verbalizava, quando terminei, encheu o peito de ar e partiu, sem…pio. Até o meu cão, o Ronnie, anda estranho. Os seus olhos escondem algo que não me quer dizer e quando me vê a sua cauda já não abana com a energia de outrora.

Estou triste! Porque será que uma jovem de 29 anos é acometida de um AVC ?! Aconteceu à Margarida, intervenção cirúrgica na tal sexta-feira. Também à Nanda (há uns anos mais atrás). Já o confessei, não sou crente. Faço parte daquele “grupo confortável” que são os agnósticos (nego tanto o Ateísmo como o Teísmo), nos momentos mais difíceis da vida, contudo, acredito que quem admite a existência de um ente superior (pode ser Deus), está mais protegido, tem onde se “agarrar”, com quem desabafar de um modo completamente intimo e privilegiado. Eu, recorro aos amigos, ás vezes, e muito à solidão do meu pensamento. Não é uma opção, é um sentir, é interior a mim mesmo, é a minha verdade.

Estou triste! Estudo leis (pelo menos tento)! Quanto mais estudo leis, menos conheço da vida. Não deveria ser assim, até sei que as leis acompanham (ou tentam acompanhar) a vida. Esta, a de hoje, que já foi ontem e há-de ser amanhã. As normas legais, são também condutas para a sociedade, são regras! Muitas são aplicadas à guisa de quem as aplica. Para ser mais claro, refiro-me às leis que regulam o Trabalho por contra de outrem. A crise que atravessamos, permite que pessoas sem escrúpulos disponham da vida de outras pessoas que delas dependem economicamente. Que pela força do seu trabalho, receba uma remuneração correspondente a um determinado horário de trabalho. Na prática, o que acontece é que se trabalha muito mais horas que o acordado, depois, são as pressões psicológicas e por fim, quando o contrato a termo está próximo, envia-se uma carta registada com aviso de recepção dizendo que o contrato vai caducar, não por o lugar que desempenhava se ter extinguido, mas por outros interesses poucos claros e mesquinhos. Pois bem, a pessoa até foi muito competente, foi mesmo muito competente. Fazia o seu trabalho, mais o da colega, ficava todos os dias a trabalhar até mais tarde, era proactiva (como agora se diz) e também reactiva e tudo isso. Um amigo meu tem uma teoria: a teoria do churrasco, e reza mais ou menos assim: o outro colega dava óptimos churrascos ao fim de semana e convidava o chefe, e outras pessoas que interessava o chefe conhecer e depois ia a outros churrascos onde estava o chefe mais as outras pessoas que interessava o chefe conhecer. A trabalhadora, a competente, foi despedida, a colega continuou a dar churrascos magníficos.

Olhem… estou triste! Queiram fazer o favor de desculpar!

Só mais uma coisa: Margarida, as tuas melhoras! Gostamos todos de ti e temos a certeza absoluta que vais recuperar definitivamente. Foi “apenas um mau momento que já passou”. Um Beijinho.

Para a "trabalhadora despedida", outro grande beijinho. Com a tua dedicação e o teu amor à profissão irás vencer!


Olhem… estou triste! Queiram fazer o favor de desculpar!

quarta-feira, julho 05, 2006

Era uma vez... uma artista de Circo



Há uns longos anos trabalhei no circo com um número de abelhas amestradas. Era um enxame completo, com abelha Rainha e tudo. Sob os meus comandos faziam várias acrobacias, como piruetas em pleno voo, loop’s, voos picados, saltos mortais, tudo numa enorme e grandiosa sincronização de conjunto. Sempre muito profissionais e dedicadas ao trabalho, estas abelhas de circo (as minhas bonecas, como carinhosamente lhe chamava), eram bastante proactivas, pois várias vezes a abelha mestre me sugeriu novas acrobacias assim como protestava quando não gostava de qualquer acção sugerida, portanto, eram também reactivas.

Estarão os leitores a matutar como seria possível trabalhar com tais animais sem nunca levar nenhuma ferroada. E, estão a pensar muito bem. A resposta é simples: como sabemos as abelhas além de excelentes artistas de circo, são óptimas produtoras de mel, pólen (usado em produtos dietéticos e como suplemento alimentar dos atletas), própolis (utilizado na medicina natural como antibiótico e cicatrizante), cera (para as obreiras produzirem 1 kg de cera têm que consumir 7 a 10 kg de mel!), geleia real (usada em medicina natural, contra as depressões e o enfraquecimento geral), só me limitava a comprar produção das “minhas bonecas” ao dobro do preço de mercado, como diz um amigo meu: sistema capitalista puro e duro bastava para ter as abelhinhas na minha mão e desse modo executarem as acrobacias pretendidas.

Uma das abelhas distinguia-se de todas as outras, não só pelo facto de ser filha da abelha Rainha, portanto, Princesa, mas sobretudo pelas habilidades que fazia no meu número de circo. Ela, pairava no ar batendo uma só asa, enviava o ferrão a uma altura considerável e recebi-o como se nada fosse, dava saltos mortais de olhos vendados e fazia voos picados de arrepiar o mais corajoso. Pois um dia, e sem que eu soubesse, foi assistir ao meu número um conhecido produtor cinematográfico de Hollywood, John Jerry de seu nome, mais conhecido por JJ (jay jay à Inglesa), que logo ficou encantado com a minha Princesa. Daí, ao contrato foi um pequeno passo. Arrecadei uma boa maquia que deu para abandonar o circo e viver de “papo” para o ar enquanto o dinheiro durou.

Mas… uns meses mais tarde, e para grande espanto meu, ligo a televisão e o que é que vejo? O que é?! Isso mesmo! A minha abelha no ecrã mágico, era a magnifica vedeta, só não gostei que lhe tenham mudado o nome, agora a Princesa chamava-se: ABELHA MAIA.
Qual Zé Maria, ou Marco, ou Zé Castello Branco, ou Lili Caneças, ou… a minha Princesa Abelha é um astro, ou ainda melhor, uma estrela que brilha. No entanto quando muito depressa se sobe, mesmo sendo acrobata de circo, estando habituada a altos voos e a queda se dá, meus caros amigos o trambolhão costuma ser danoso.

Um dia tocou o telefone lá de casa, um objecto em madeira, uma coisa lindíssima que herdei do meu avô, que por acaso não tinha telefone, mas que trouxe este de França após a sua participação na I Guerra Mundial, bom, tocou o dito telefone e era o já mencionado JJ. Meio atrapalhado, a voz de quando em quando cortada por um soluço, lá me foi dizendo que a minha Princesa, agora Maia (leia-se: abelha Maia), estava grávida. Surpreendido, lá fui perguntando: e então, quem é o pai? Como aconteceu? Ao que JJ, retorquiu: - Hey man! I’m not sure, foi um zangão que trabalha num filme pornográfico que eu produzo. É um galã, só musculo, grandes peitorais, muito difícil qualquer abelha resistir ao charme deste matulão. E o pior é que a Maia, já não pode participar mais na série, vai ser substituída por uma outra abelha muito jeitosa, que trabalha numa outra série sobre apicultura.
- Então e a Princesa (a Maia), que vai acontecer? Perguntei.
- Well, vai para um lar de mães solteiras e depois terá que cuidar da vida sozinha. Isto aqui é América, não é como aí na Europa, my friend!
Fiquei deveras preocupado, mas a verdade é que já tinha gasto todo o dinheiro que ganhei com a transferência da Princesa, logo não tinha possibilidade de cuidar dela.

Durante vários (muitos) anos, nada soube da abelha Maia, até que há pouco mais de 2 meses um colaborador próximo do JJ disse-me que a pobre Maia morreu de solidão, mas, a sua filha, também de apelido Maia faz sucesso, diz-se que é:… Astróloga !